terça-feira, 9 de abril de 2024

 PROJETO ARARANGUÁ EM CORES E ARTE EM RAIZES: PRÁTICAS CULTURAIS QUE EXPRESSAM LIBERDADE E RESISTÊNCIA COLETIVA.

 

Foto - Jairo

Aproveitando a semana comemorativa aos 144 anos de emancipação político administrativa de Araranguá, entre os dias 02 a 07 de abril de 2024, aconteceu no Center Shop, Cidade Alta/Araranguá exposição de dois trabalhos artísticos desenvolvidos pelo professor Jairo Cesa, sendo eles o Projeto Araranguá em Cores e Arte em Raízes. O primeiro deles buscou dar cores às fotografias em preto e branco, captadas por fotógrafos do começo do século XX, de cenários como logradouros públicos e edificações arquitetônicas.

Foto - Jairo


O objetivo desse projeto foi desconstruir visões principalmente do público infantil de acreditar que o cotidiano do pequeno povoado na época era descolorido, ou seja, o céu, as florestas, as edificações, as vestimentas das pessoas, prevaleciam somente o preto e branco. O segundo trabalho em exposição teve como título Arte em Raiz. Foram apresentados ao público dezenas de peças, com texturas e formatos distintos de pessoas, animais e outras figuras, que foram meticulosamente esculpidas a partir de raízes de árvores recolhidas nas imediações da foz do rio Araranguá e na orla do mesmo município.

Foto - Jairo


Cada peça de arte, além da sua singularidade e particularidade estrutural, traz informações importantes sobre a geologia, a geomorfologia, bem como as mudanças climáticas em curso no planeta. Expressiva parcela das peças em exposição, os troncos dos quais as raízes foram coletadas, ambos eram provenientes das encostas da serra geral, de municípios que integram a bacia hidrográfica do rio Araranguá, a exemplo de Timbé do Sul, Jacinto Machado e Morro Grande. Dentre os municípios acima citados, um dos que mais sofre os impactados das alterações climáticas em curso é sem dúvida Timbé do Sul, que foi assolado em 1995 por uma violenta enxurrada.

Foto - Net


Foi tanta água em pouco tempo, cuja pressão arrancou das encostas da serra milhares de troncos de árvores e toneladas de pedras, episódio que causou destruição da infraestrutura e várias mortes. Por um longo período toda a orla do município de Araranguá ficou completamente coberta por troncos de árvores, todas de espécies nativas que compõem o bioma da mata atlântica. Quase trinta anos depois ainda hoje são encontrados resquícios dessa tragédia climática nos inúmeros troncos expostos ou cobertos pelas dunas às margens do rio Araranguá, próximo a foz, e na orla.

Foto - Jairo


Portanto, a exposição de pinturas em telas e peças em raízes que ocorreu nas dependências do Center Shop, ambas não se deu de forma aleatória, sem propósitos ou objetivos bem definidos. Muito pelo contrário, tudo foi bem planejado com intuito de garantir ao publico que lá esteve, além de se impressionar com a estética do material exposto, a oportunidade impar de ampliar o conhecimento em história local, geografia, arte, entre outras áreas do conhecimento.

Foto - Jairo


Durante os sete dias de exposição no Center Shop, mais de mil pessoas reservaram um pouquinho do tempo para apreciar as pinturas e as esculturas em raízes. Muitas ficaram impressionadas com as ruas em chão batido onde hoje está o calçadão e a Praça Hercílio luz. A segunda igreja matriz, arquitetura concluída em 1902, junto com a edificação da primeira prefeitura, ambas despertaram a atenção de quase todo o público visitante.

Foto - Jairo


O que se pode concluir a partir de uma exposição dessa dimensão é a forte capacidade que a mesma tem de fazer os sujeitos refletirem sobre sua condição de existência e pertencimento em um determinado espaço e tempo cronológico.  Embora tudo tende a sofrer transformações ao longo das gerações, sempre continuamos vinculados ao passado por meio da memória, sendo a afetiva a mais significativa. A fotografia, a pintura, a escultura, a oralidade, etc, são, inquestionavelmente, recursos eficientes e necessários ao fortalecimento do imaginário social, ou seja, a consolidação de uma visão de mundo plural, crítica, valorizando as artes, a cultura em seu todo.  

Quanto mais cultura um povo tiver acesso: arte, música, pintura, teatro, escultura, dança, mais se sentirá empoderado, independente, autônomo e com auto estima elevada. Mais cultura reflete diretamente nas boas escolhas dos que representação o povo nos postos de comando dos municípios, estados e no segmento federal. Mais cultura também ajudará a não se comportar como manada, que se contenta sendo comandado por um coletivo de poder. Portanto arte é sinônimo de revolução, forma de expressão que exprime liberdade e resistência a todo tipo de totalitarismo e dogmatismo social e político.

Prof. Jairo Cesa     

quarta-feira, 20 de março de 2024

 

AQUECIMENTO GLOBAL E PRECARIEDADE NO SANEAMENTO BÁSICO COMO VETORES PARA O AUMENTO DOS CASOS DE DENGUE NO BRASIL

Menos de dois anos depois de a humanidade ter sido afetada por uma pandemia, a do Corona Vírus, que ceifou a vida de milhares de pessoas nos cinco continentes, o Brasil, que contabilizou mais de seiscentos mil mortos, vive agora uma epidemia provocada pelo mosquito Aeds Aegypti, transmissor do vírus da dengue. Embora a respectiva doença seja menos letal que a do COVID 19, o que espanta é a sua facilidade de contágio e proliferação, ocorrendo dessa vez em lugares antes quase inimaginável, como a região sul pelo fato de apresentar temperaturas mais amenas.

Há estudos que confiram que o aumento dos diagnósticos do vírus em todo o território nacional tem relação direta e indireta com as mudanças climáticas, cujo Brasil é um dos mais impactados pelo crescente desmatamento de suas florestas. A supressão de florestas como do bioma da mata atlântica para dar lugar a monocultura agrícola ou grandes projetos imobiliários são causas diretas da infestação do mosquito da dengue, chikungunya, nos estados do sul. Não podemos esquecer também que o fator saneamento básico deve ser considerado como um dos vetores importantes à proliferação do mosquito.

Até pouco tempo o aeds eagypti somente se reproduzia por meio de água limpa. Hoje o inseto consegue a proeza de se multiplicar em qualquer ambiente, independente se a água está limpa ou suja.  Portanto, aqui está o problema, pois são poucas as cidades brasileiras que cumprem com as políticas nacionais de saneamento básico sancionadas em 2010, na qual vai muito além de água tratada. Dados confirmam que são quase cem milhões de pessoas no Brasil não atendidas por sistema de coleta de esgotos. Se nesse quesito o número já á absurdo agora imaginemos o percentual de pessoas não contempladas com programa de tratamento de esgotos, com certeza quase 200 milhões.

Tratamento de efluentes domésticos e a coleta seletiva de resíduos sólidos ainda não é uma realidade em centenas de municípios brasileiros. Inclui-se nessa lista o estado de Santa Catarina, onde pouco mais de 150 municípios, ou seja, 50%, não têm coleta e tratamento de esgoto. Dados do Censo demográfico publicado em 2022 revelou que na região da AMREC são 11 mil domicílios sem esgotamento sanitário adequado. Se a AMREC que participa com um PIB considerável para a economia do estado sofre tais deficiências no sistema de saneamento básico, a AMESC ainda permanece embrionária nesse segmento. Portanto, o percentual de famílias atendidas com esgotamento sanitário tratado é absurdamente baixo. A mesma deficiência ocorre no recolhimento dos resíduos sólidos, tendo dois ou três municípios que programam seus planos de coleta seletiva.

O vírus em curso precisa de qualquer ambiente com a presença de água parada para depositar os seus ovos. Valetas, caixas d’água e piscinas desprotegidas, pneus, garrafas e outros recipientes abertos e espalhados em terrenos baldios são ambientes ideais à infestação do mosquito. Se Araranguá ainda não está infestada pelo Aedes Aegypti isso se deve ao fator sorte, pois ingredientes não faltam. Basta dar uma voltinha pelos bairros da cidade ou pelo interior do município e ver a quantidade de locais propícios para a reprodução do mosquito.

A implementação imediata do programa de coleta seletiva de resíduos sólidos ajudaria bastante e diminuição dos possíveis focos do transmissor da dengue. Mas isso somente não bastaria. O poder público municipal e estadual por meio de suas secretarias de educação e saúde deveria promover campanhas de sensibilização em todas as unidades de ensino do município, independente das redes que estão inseridas. O fato é que com as mudanças climáticas em curso, com chuvas cada vez mais irregulares e temperaturas escaldantes a tendência é termos a presença do mosquito no nosso cotidiano. O agravante é que quanto mais focos do mosquito detectados a tendência é do vírus vir a se tornar mais forte, mais letal.

Prof. Jairo Cesa       

   

quinta-feira, 14 de março de 2024

 POLÊMICA SOBRE A REFORMA QUE DESCARACTERIZARÁ A FACHADA DA IGREJA MATRIZ/SANTUÁRIO NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS


Há poucos dias os cidadãos do município de Araranguá foram surpreendidos com a notícia de que a fachada da quase centenária igreja católica Nossa Senhora Mãe dos Homens passaria por reformas, trocando a atual por outra, cujo argumento dos seus idealizadores era pelo fato de ser mais moderna, compatível com a filosofia do santuário. A notícia correu como um rastilho de pólvora, provocando apreensão, indignação e revolta para expressiva parcela da população que acredita que tal proposta descaracterizante impactará a memória, a cultura, bem como a fé dos araranguaenses.

Historicamente no Brasil são poucas as cidades cujos povoados não surgiram no entorno de uma pequena igreja, edificada em um local estratégico, geralmente num ponto mais elevado. Araranguá serve de exemplo, cuja primeira edificação foi erguida na antiga comunidade de canjicas, hoje Hercílio luz, início do século XIX, tendo como padroeiro São Bom Jesus da Colina. Em meados do século XIX, portanto, com a edificação de uma minúscula igreja de madeira nas proximidades do rio Araranguá, hoje Praça Hercílio Luz, o povoado Capão da Espera começou a crescer, com residências e demais edificações públicas instaladas ao redor da referida igrejinha.

A população foi aumentando significativamente, em 1848 o povoado foi elevado na condição de distrito de Laguna, tendo agora como padroeira Nossa Senhora Mãe dos Homens. Por ser muito pequeno o imóvel católico e não comportar a imagem da santa, tratativas para a construção de uma nova igreja, maior que a primeira, foram articuladas pelos munícipes devotos. Finalmente bem no começo do século XX, entre 1891 e 1892, uma nova edificação com traços arquitetônicos singelos foi construída na qual comportaria no seu interior a padroeira e os fieis católicos do já município, emancipado em 1880.   

Foi na década de 1950 que a atual igreja, hoje santuário Nossa Senhora Mãe dos Homens foi erguida. Com sua arquitetura estonteante sua enorme torre pode ser vista de todos os pontos da cidade e também de quem transita pela Br.101. Além da extraordinária veneração devido as graças concedidas sob a intersecção da santa, o espaço arquitetônico interno e externo também é repleto de simbologias, sentimentos, misticismo, que vão além das fronteiras da fé. Quem conhece um pouco de história ou que já viajou vai perceber que povos culturalmente avançados têm seu patrimônio arquitetônico religioso e não religioso bem preservado. E qual a razão disso? A razão se deve a memória, no fato de as pessoas se sentirem integrados, pertencentes a um coletivo social. Ruas, edificações, monumentos preservados, ambos guardam no inconsciente coletivo traços importantes do passado.

Os colonizadores europeus quando chegaram ao continente americano, final do século XV e começo do XVI, sabiam muito bem como dominar a população nativa local. A estratégia foi destruir tudo que se referia a cultura, a memória do povo. Templos e demais símbolos religiosos, afrescos ricamente desenhados esculpidos, foram os principais alvos dos invasores, pois tinha certeza que destruindo todos os elementos míticos culturais ambos ficariam fragilizados pela falta de referências simbólicas.

Já observaram que quanto mais preservada é a história, a cultura de uma cidade, município, a população se mostra mais empoderada, pois consegue se impor aos ditames autoritários de elites sanguessugas, predadoras. Isso não acontece somente no espaço temporal, no espiritual também é perceptível. Quem visita ou visitou cidades mineiras e baianas, por exemplo, os turistas quando lá chegam uma das primeiras incursões é entrar nas igrejas centenárias e se impressionar com tamanha beleza estética e riquezas simbólicas.

Parece que em Araranguá, uma elite torpe inclui-se nesse grupo membros do clero, foram contaminados pelo vírus do atraso, do retrocesso. Não há porque continuar com tal sandice de querer mudar a fachada da igreja matriz quando se sabe que parcela expressiva da população é contrária. O autoritarismo que sempre perpassou nos meandros dos segmentos civis por gerações tem também suas raízes incrustadas no território religioso. Os argumentos de que a cúria e demais setores hierarquizados da igreja têm o poder de decisão sobre espaços por ela administrado são inconsistentes.

Padres, bispos, papas, todos que compõem a hierarquia de um complexo sistema clerical, são membros não permanentes, ou seja, ficam um tempo em suas funções pastorais e, de repente, são substituídos por outros. Acontece que os espaços onde atuam: capelas, paróquias, basílicas, santuários, ambos são permanentes, compondo o complexo conjunto arquitetônico de um espaço, que se transformam com o tempo em uma espécie de osmose, trocas de energias com seus moradores. Essa energia é mais contagiante entre os fiéis, que tem a imagem do objeto, nesse caso a igreja, seus traços artísticos e arquitetônicos como algo intrínseco ao seu corpo, a sua alma.

Mais uma vez reitero minha revolta, indignação à tamanha barbaridade que querem cometer contra um dos nossos principais símbolos da memória dos araranguaenses. Portanto, venho aqui reiterar que haja profunda discussão futura sobre esses temas com os poderes locais constituídos. Deixar claro que a tentativa de descaracterização não acontece somente como o referido símbolo sagrado dos munícipes, outros espaços também sofreram o mesmo processo de apagamento da memória. Muitos devem lembrar-se do polêmico processo de abertura de Rua no Morro Azul, uns dos símbolos paisagísticos do município que foi totalmente descaracterizado.  Os sítios arqueológicos, no Morro dos Conventos, com datações de quatro a cinco mil anos de história também estão à deriva do vandalismo, sem qualquer perspectiva de alguma ação do poder público para a sua proteção.

Por ser ano eleitoral, a sugestão é que tais assuntos componham o arcabouço de proposições dos/as candidatos/as que concorrerão às vagas do legislativo municipal e do executivo. A cultura de valorização, proteção dos nossos bens históricos materiais e imateriais deve ser disseminada entre todos, pois só assim teremos mais certezas que as próximas gerações desfrutarão daquilo que foi construído pelos nossos antepassados. Quanto mais preservada a arquitetura, a memória, a história temporal e espiritual de um município, mais fortalecidos serão os laços de pertencimento de seus moradores. Arquitetura, cultura, história preservada, auxiliam na construção de cidadãos mais críticos, resistentes as manipulações de políticos, imprensa e membros do clero.

Falando em manipulação, se observarmos o folder de divulgação da festa da padroeira, em 04 de maio, notaremos, claro que nem todos, um implícito instrumento de manipulação. Na capa do folder, está escrito o seguinte lema “Com Maria, Edificamos a Casa do Senhor. Bem embaixo, no canto esquerdo do papel, em tamanho reduzido, está a imagem frontal da igreja, não da atual, mas da seguinte, toda modificada. Se perguntarmos para os fieis, devotos da santa, o que entendem sobre “edificar a casa do senhor”, raros/as serão aqueles/as que de pronto perceberão que a mensagem faz referência à nova edificação/mudança da fachada. Eu mesmo tive dificuldades de perceber essa sutil manobra. 

Prof. Jairo Cesa 

sexta-feira, 1 de março de 2024

 

O PERNANENTE  DESCASO COM O PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ARTISTICO E CULTURAL DE ARARANGUÁ

É louvável que depois de parte significativa da nossa história material ter sido quase dilapidada, um grupo de pessoas, a maioria vinculada à cultura e aos movimentos sociais do município de Araranguá, decidiu levantar a voz e dizer não a um segmento poderoso que pensa ser dono de um de nossos principais patrimônios arquitetônicos e artísticos, a igreja matriz de Araranguá. O fato é que a mobilização criada, que se opõe a reforma proposta pela cúria da fachada da igreja matriz, terá que permanecer mobilizada e, quem sabe, agendar encontros entre os integrantes para discutir outras demandas vinculadas aos nossos patrimônios artísticos, paisagísticos, arqueológicos, tão desprezados pelas autoridades competentes.

Em 2011 um grupo de ativistas do meio ambiente fundou no Morro dos Conventos a Oscip Preserv’Ação, entidade criada para atuar em defesa daquele complexo e frágil ecossistema. Uma das principais bandeiras de luta da entidade era para a criação de uma unidade de preservação, ou, quem sabe, um mosaico de unidades integradas. Foi no final de 2016 depois de dois anos de reuniões e oficinas do Projeto Orla que a administração municipal criou por decreto três unidades: uma APA (Área de Preservação Ambiental); um MONA-UC (Monumento Natural – Unidade de Conservação Morro dos Conventos e uma RESEX (Reserva Extrativista).     Desde as suas criações ambas as unidades foram desconsideradas, sem o cumprimento das etapas estabelecidas nos seus artigos, como a formulação de planos de manejos e gestões participativos.

Para piorar ainda mais, nos últimos três anos em vez de avançar na efetivação definitiva das unidades o que ocorreu foi a supressão da APA e a redução significativa da área do MONA-UC. Por que a descaracterização do MONA-UC se caracteriza como um retrocesso à cultura patrimonial de Araranguá? O monumento natural Morro dos Conventos, formando pelo paredão ou paleofalésia, data de cerca de duzentos milhões de anos, sendo o mesmo um remanescente da serra geral. Antes mesmo da assinatura dos decretos das unidades de preservação varias foram as diligências promovidas pela OSCIP junto ao MPF e ao IPHAN/SC.

As respostas enviadas pelos órgãos acima ao poder público municipal e ao órgão ambiental eram para que agilizassem as tratativas de tombamento do monumento natural Morro dos Conventos como forma de assegurar sua integridade. Entretanto o que mais inquietava os membros da entidade ambiental eram os atos de vandalismo sobre as áreas onde estavam os sítios arqueológicos, em vários pontos entre as dunas, restingas e no entorno do farol. Foi a descoberta de uma urna funerária guarani por estudantes da escola do bairro que elevou ainda mais o grau de preocupação sobre a insegurança do nosso patrimônio arqueológico.

Essa mesma urna está atualmente nas dependências do Museu/Casa da Cultura de Araranguá. As discussões sobre o futuro dos sítios permaneceu e se tornou assunto principal durante a administração do prefeito Sandro Maciel, do PT - 2012-2016 O motivo de ter a administração abraçada a causa foi a pesquisa de doutorado desenvolvida pelo professor Juliano Bittencourt, do IPAT/UNESC, com o tema Arqueologia Entre Rios e a Gestão Integrada do Território no Extremo Sul de Santa Catarina, Brasil. Na investigação, foi constatado que no entorno da paleofalésia, áreas de dunas e restinga, existiam sitos sambaquianos e guaranis, alguns datados de três a quatro mil anos.

Entre as descobertas relevantes está o Abrigo Sobre Rocha, popularmente conhecida como furna, cujo espaço servia de abrigo e cemitério aos primeiros habitantes da faixa costeira do extremo sul de Santa Catarina.  Para buscar solução a controvertida arqueológica do município, o chefe do poder público municipal reuniu na época no seu gabinete, no paço municipal de Araranguá, integrantes do IPHAN, da OSCIP PRESERV’AÇÃO; SUPERINTENDÊNCIA da FAMA; DEPARTAMENTO DE IMPRENSA e o PROFESSOR Dr. JULIANO BITENCOURT, representando o IPAT/UNESC.  

No final da reunião o professor Juliano lançou a seguinte proposição que foi acordada pelos demais: “É necessário a realização de Seminário Regional sobre o tema arqueologia para dar a arrancada na questão do patrimônio arqueológico regional. Como encaminhamento, o procurador do IPHAN propôs ao Juliano, Coordenador do Departamento de Arqueologia da UNESC, que elaborasse projeto orçamentário exclusivo para o salvamento do sítio 48, e depois outro projeto estendido para os demais sítios. Foi sugerida a primeira semana de agosto de 2016, o dia 10, como data do próximo encontro, com o convite estendido aos demais órgãos municipais, como educação, cultura e turismo.  

Até o momento não se tem informação de ter havido ou não o tal encontro ou outros encontros posteriores para discutir o assunto arqueologia no município de Araranguá. Sabendo da necessidade de preservar os sítios e todo o patrimônio paisagístico do Balneário Morro dos Conventos, a escola de Educação Fundamental Padre Antônio Luiz Dias desenvolveu inúmeros projetos nesse sentido, tendo sempre a participação ativa da comunidade escolar e da população em geral.  Oficina Guarani, documentários retratando a memória local como a do boi de mamão foram algumas entre muitas outras ações com objetivos de sensibilização proteger os símbolos culturais materiais e imateriais do bairro.

O que a escola do balneário desenvolveu e vem desenvolvendo é exatamente o que determina as legislações em vigor, propondo que as escolas em todos os níveis desenvolvam educação patrimonial como disciplina transversal, ou seja, intercalando todas as áreas de conhecimento. Claro que diante das grandes demandas de tarefas incumbidas aos profissionais da educação, como também pelo pouco preparo formativo, o tema educação patrimonial ainda fica restrito quase que exclusivamente ao profissional de história. Trazer para o interior das unidades de ensino temas como o que vem sendo discutido no grupo SACROSSANTA MEMÓRIA DA FÉ criado para se opor a descaracterização da fachada da Igreja Matriz de Araranguá pode ser muito salutar ao processo de formação crítica dos futuros cidadãos/ãs.

Mais uma vez reitero da necessidade da permanência desse movimento, criado em torno desse importante espaço religioso, para que não se dissolva independente de vitória ou derrota de tal iniciativa. Reitero também que somente com o engajamento de toda a sociedade, dos movimentos sociais em especial, será possível frear as investidas destrutivas de certos segmentos sobre nossos bens patrimoniais, muitos dos quais tão desprezados pelas autoridades, que deveriam protegê-los com o dever constitucional.  

Prof. Jairo Cesa  

1- Os interesses obscuros envolvendo a abertura de uma rua no MORRO AZUL, Bairro Urussanguinha/Araranguá/SC, supostamente Área de Preservação Permanente   -  https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/5223086963387934124

2-     As meias verdades sobre o Morro Azul e o Fechamento da orla do Morro dos Conventos/Araranguá-SC - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/6770660695768509902

3- O drama da arqueologia no Brasil: Em entrevista Niède Guindon relata descaso político com a Serra da Capivarahttps://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/1472234772280892669

4- A ausência de entidades importantes como MPF, IPHAN, ICM BIO, IPAT/UNESC, UFSC, entre outros, deixam dúvidas quando a credibilidade do Projeto Orla no município de Araranguá https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/7986942495246664559

5- Experiências de Educação Patrimonial difundidas na Escola Estadual do Bairro Morro dos Conventos https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/7373489757966985270

6- Projeto Orla e os debates sobre políticas públicas de Preservação e difusão do Patrimônio Arqueológico da faixa costeira do município de Araranguá https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/3822665111718112983

7- EDUCAÇÃO PATRIOMINIAL, ARQUEOLOGIA E SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS NO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/2783984930540241050

8- Enfim renovam as esperanças acerca do futuro da Arqueologia no município de Araranguáhttps://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/3737904103508029333

9 -O HISTÓRICO DESCASO DAS AUTORIDADES PÚBLICAS COM A CULTURA NO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁhttps://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/9126781138666303569 

10 - O DESAFIO AGORA É VIABILIZAR A EFETIVAÇÃO DO DECRETO QUE CRIOU A MONA (MONUMENTO AMBIENTAL MORRO DOS CONVENTOS) - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/8383231240807254983

11- AS DEMANDAS DO PROJETO ORLA E OS DESAFIOS PARA SUA EXECUÇÃO EM TODA FAIXA COSTEIRA DO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/7747284972603948971 

12- ESTUDANTES E PROFESSORES/AS DA EEBA VISITAM A TRADICIONAL COMUNIDADE DE ILHAS, ARARANGUÁ, EM CUMPRIMENTO A MAIS UMA ETAPA DO PROJETO ESCOLA SUSTENTÁVEL - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/4920697416898250231

13- ROTEIRO GEOECOLÓGICO COMO ESTRATÉGIA PARA COMBATER A ESTAGNAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DE ARARANGUÁ - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/9020795543574804100

14- O DESAFIO DE FAZER VALER OS DECRETOS SOBRE AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA FAIXA COSTEIRA DE ARARANGUÁ - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/3898533707811668466

15-  DESCASO DO PODER PÚBLICO DE ARARANGUÁ COM AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO MORRO DOS CONVENTOS E ILHAS - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/4191654506463691056

16- AS ATRIBUIÇÕES DA FAMA (FUNDAÇÃO MUNICÍPAL DO MEIO AMBIENTE) CONFORME DISPOSITIVOS  ESTABELECIDAS EM ESTATUTO HOMOLOGADO EM 2007 - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/6868297505744168222

17- FRAGMENTOS DA TRAJETÓRIA DE VIDA DE FELIX CARBAJAL, O IDEALIZADOR DO RELÓGIO DO SOL OU QUADRANTE SOLAR, EM ARARANGUÁ - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/6192630252914076135

18- A CULTURA DOS CEMITÉRIOS COMO IMPORTANTE ACERVO DE MEMÓRIA E CONHECIMENTO - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/6114136003052139146

19- CIDADES SUSTENTÁVEIS: ARARANGUÁ SEGUE NA CONTRAMÃO DO TOP 100 GLOBAL GREEN DESTINES - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/7504614953285071463

20- MUSEU DE ARARANGUA EXPÕE FRAGMENTOS DE UM PASSADO CONTADO  PELOS TRILHOS DA ESTRADA DE FERRO DONA TERESA CRISTINA - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/6652998013438037997

21- O QUE HÁ DE VERDADE E FAKE/MENTIRAS NAS FALAS RELATIVAS AS AÇÕES DO MPF (MINISTERIO PÚBLICO FEDERAL) NA ORLA DO BALNEÁRIO MORRO DO CONVENTOS - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/4033783246172839615

22- MIRANTE DO MORRO DOS CONVENTOS, VERDADES E INVERDADES ACERCA DESSE POLÊMICO PROJETO TURÍSTICO - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/9022663596079774922

23- PODER PÚBLICO DE ARARANGUÁ E AS POLITICAS ANTIAMBIENTAIS PARA O DESENVOLVIMENTO  SUSTENTÁVEL DO MUNICÍPIO - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/2291959761061187434

24- EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL COMO  UMAS DAS PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES DA FAMA (FUNDAÇÃO AMBIENTAL DE ARARANGUÁ) - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/6380376644227781867

25- ENCRENCAS E CONFUSÕES ENVOLVENDO O PROJETO DE CONSTRUÇÃO DA QUARTA PONTE EM ARARANGUÁ - https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/7973695722345957799


 


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

 

O GENOCÍDIO NA FAIXA DE GAZA CHANCELADO PELO GOVERNO CIONISTA ISRAELENSE E SEUS ALIADOS

Depois de quase cinco meses de constantes ataques terrestres e aéreos do poderoso exército israelense aos territórios palestinos ocupados e em especial a Faixa de Gaza, pela primeira vez depois desse longo período de barbarismo uma luz se acende no fundo do túnel e tendo como  protagonista o presidente brasileiro. Tudo aconteceu em Adis Abeba, capital da Etiópia, na reunião da cúpula africana, quando, durante a sua fala, Lula afirmou que o que está acontecendo na Palestina pode se assemelhar ao extermínio de judeus na Europa durante a ofensiva.

É importante resguardar as proporções da fala do presidente, isso pelo fato de que outros holocaustos ocorreram posteriormente ao segundo conflito mundial. Os genocídios em Ruanda, Camboja, Armênia, territórios curdos, até mesmo os extermínios institucionalizados de populações negras e indígenas no Brasil, são alguns exemplos nefastos da nossa história. A fala do presidente Brasileiro foi recebida com indignação junto aos altos escalões do governo israelense, cujo primeiro ministro o chamou de “persona non grata”. Em linguagem diplomática essa expressão nada mais é que o começo de um processo que poderá resultar em rompimento diplomático entre o Brasil e Israel.

Independente se haverá ou não rompimento diplomático, o que importa foi o ato em sim, no qual gerou desconforto ao regime de Israel, pois sabem que a postura do presidente brasileiro poderá estimular outras nações à tomarem a mesma postura corajosa, aumentando ainda mais o isolamento do premiê israelense em decorrência de suas investidas criminosas contra palestinos. O próprio presidente dos EUA, com poder de veto no conselho da ONU, vem pressionando o líder israelense para um cessar foto junto a Faixa de Gaza. Os ataques aéreos e terrestres já mataram  quase quarenta mil pessoas, incluindo nessa conta desaparecidos que permanecem sob os escombros das construções destruídas pelos bombardeios israelenses.

Segundo o governo israelense, a próxima ofensiva está prevista para a cidade de Rafah, no sul da Faixa, na qual faz fronteira com o Egito, onde vivem mais de um milhão de pessoas, na sua maioria refugiados do norte, em acampamentos gigantes. A promessa do governo israelense é para que a ação militar a Rafah ocorra durante o Ramadã, importante feriado muçulmano. Penso que em outras ocasiões já devo ter me manifestado sobre o ato de sete de outubro de 2023, quando integrantes do Hamas, romperam a cerca que separa a Faixa de Gaza às terras ocupadas por colonos judeus matando centenas de civis. A brutalidade foi maior quando os mesmos ditos “terroristas” invadiram uma festa rave de jovens israelenses, próximo a Gaza, matando centenas e transformando outras tantas em reféns.

Claro que é condenável tal barbaridade contra pessoas indefesas, independente da nacionalidade, etnia ou crença religiosa. Se houve essa reação do Hamas, que é condenável, não justifica a reação do Israel que decidiu invadir o enclave palestino, Faixa de Gaza, um território de 40km de comprimento por 6km de largura, onde vivem precariamente aproximadamente dois milhões de pessoas.

A justificativa acerca das investidas do exército israelense a Gaze foi para "exterminar os terroristas do Hamas". As imagens que diariamente correm o mundo pelos telejornais mostram escombros do que eram antes áreas residenciais inteiras. Nos bombardeios não são poupados nem mesmo hospitais. O que choca  são os corpos de adultos e crianças envolvidos em lençóis, o que nos alimenta mais a convicção que a intenção do governo de Benjamin Netanyahu era e é sim promover limpeza étnica contra palestinos.

É conveniente admitir que o processo de extermínio dos palestinos na Cisjordânia e Faixa de Gaza vêm se dando há décadas, se intensificando ainda mais depois da segunda guerra mundial com a criação do Estado de Israel. Paulatinamente levas de judeus europeus e de diversas partes do planeta foram chegando ao novo estado, estendendo suas possessões, assentamentos, sobre áreas palestinas. Foram inúmeras as negociações ou acordos mediados por grandes potências na tentativa de solucionar às tensões cada vez mais violentas naquela minúscula região, onde estão os símbolos sagrados das três principais religiões monoteístas do planeta.  A criação de um estado único, de convivência mútua entre palestinos e judeus foi insistentemente colocada às mesas de negociações, porém sem sucesso.

Visitando  em Israel em 2014 pude ver de perto o quão reprimidos vivem os palestinos. Na Jerusalém antiga onde estão os símbolos religiosos dos judeus, cristãos e muçulmanos, o lugar mais vigiado pelo exército israelense era a esplanada das mesquitas, cujo acesso todos deviam ser revistados por meio de detectores de metais. No local está a famosa mesquita de Al-Aqsa, a mesma que deu nome da operação coordenada pelo Hamas em 07 de outubro, batizada de “em defesa da mesquita de Al-Aqsa”.  Para os muçulmanos a presença de qualquer autoridade judaica ou soldado no entorno da mesquita é interpretado como ato de blasfêmia, insulto a divindade islâmica.

Tanto em Tel Aviv quanto em outras cidades israelenses a força de trabalho empregada na construção civil, comércio, entre outras de baixa remuneração são na maioria de cidadãos/ãs palestinos/as. Diariamente, para sair e entrar das suas vilas, muitas das quais cercadas por enormes muralhas e vigiadas por forças israelenses, por exemplo a cidade de Belém, os cidadãos/ãs palestinos devem passar por revistas minuciosas, ações essas dispensadas aos israelenses. Uma enorme muralha de concreto, coberta por arames farpados e câmeras de vigilâncias foi construída por Israel para proteger a Cisjordânia ocupada da Jordânia. Entretanto, dentro do seu próprio território o palestino vive sob um brutal e permanente apartheid que para muitos é bem mais agressivo que o da África do Sul, que perdurou por mais de cinquenta anos.

Observando as reportagens e debates de grandes redes de comunicação pró sionismo no ocidente, tem-se a sensação que todo o palestino/muçulmano é um terrorista em potencial, que deve ser evitado. Esse tipo de estereótipo não era observado nas cidades visitadas em Israel, bem como em Jerusalém, onde conviviam de forma aparentemente harmoniosa judeus, cristãos e muçulmanos. Outro detalhe importante, por estarem em Jerusalém e em diversos pontos de Israel e territórios palestinos, símbolos sagrados das três religiões monoteístas importantes, todos os anos milhares de pessoas e peregrinos se deslocam para lá. Fato é que Parte da renda de milhares de famílias palestinas vem do turismo.

Em 2014, a faixa de gaza havia sido bombardeada não nas proporções de hoje. Devido ao ocorrido, centenas de grupos de turistas de todas as partes do mundo haviam cancelado suas viagens. Era perceptível o baixo fluxo de pessoas transitando nos lugares sagrados como a cidade de Belém, Jericó, Nazaré, Galileia e na Jerusalém. Se na época, dez anos atrás,  o quadro social e econômico dos palestinos já era desolador, considerada uma investida curta do exercito israelense, imaginemos hoje, com os ataques diários a gaza e a forte repressão imposta aos cidadãos palestinos nos territórios ocupados. Quem não perdeu a vida nos ataques certamente  irá morrer de fome e de doenças.  Se isso não é genocídio deliberado, o que é então?

Prof. Jairo Cesa           

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

 

AS ADVERSIDADES DO CLIMA E DO MERCADO NO CULTIVO E COMÉRCIO DA PITAYA NO SUL DE SANTA CATARINA

Foto - Jairo


O fato de o sul de Santa Catarina participar com 90% da produção de pitaya colhida no estado lhe credenciou pela segunda vez à sediar a abertura da colheita da safra 2023/2024. O local escolhido foi a propriedade de um casal de produtores no município de Turvo/SC berço da atividade da fruta no estado. No encontro, na comunidade de Linha Contessi, estavam produtores, técnicos da EPAGRI, representantes de cooperativas do segmento, políticos, imprensa e o presidente nacional da associação dos produtores de pitaya. Após o cerimonial de abertura que contou com a colheita simbólica da fruta, o público foi dividido em grupos para participar de três curtas palestras onde foram discutidos os seguintes assuntos: pragas no cultivo de pitaya, formas de controle, e distúrbios fisiológicos; mercado e comercialização da pitaya e incentivo ao consumo de fruta.

Foto - Jairo


Claro que na palestra sobre pragas e distúrbios fisiológicos, o assunto que certamente estaria na pauta para ser abordado seria o “centro gelatinoso”, distúrbio fisiológico no qual afeta principalmente as frutas da branca comum, variedade que ainda predomina nos pomares da região. De acordo com pesquisadores da EPAGRI, acredita-se que tal anomalia tenha relação direta com o fator tempo, ou seja, incidência de altas temperaturas e umidade. Esses fatores geram algum desequilíbrio no metabolismo das mesmas formando a massa gelatinosa.

Foto - Jairo


Já que não há produto disponível no mercado para conter esse defeito, os técnicos vêm pesquisando estratégias para minimizar o problema.  No lugar da supressão definitiva dos pés, o ensacamento das frutas vem trazendo bons resultados. Além da redução significativa de frutas com tais anomalias, cobrir as frutas protege-as do ataque de insetos principalmente da arapuá, espécie de abelha nativa que provoca grandes estragos nos pomares da região. A substituição da variedade branca comum por outras mais resistentes, como a viatnamess White, vem trazendo muitas vantagens, principalmente por ser auto fértil, que dispensa a polinização manual.   

Foto - Jairo


Quanto ao mercado de pitaya as estimativas são de redução de quinze a vinte por cento o volume colhido na atual safra, cujos fatores estão relacionados às adversidades do tempo, como excesso de chuvas e temperaturas elevadas, consideradas acima da média para a época. Entretanto mesmo com a redução da produção é possível que o valor arrecadado em reais pelos produtores seja igual ou até maior que no ano anterior motivado pela valorização do quilo da fruta. Inúmeras falas foram proferidas sobre o que fazer para elevar os preços e a renda dos agricultores envolvidos no cultivo de pítaya. Uma das alternativas elencadas foi incentivar a exportação da fruta. Entretanto essa medida mostrou-se pouco otimista em decorrência das regras fitossanitárias adotadas pelos países importadores, principalmente a União Europeia que determina ausência que qualquer tipo de partículas tóxicas nas frutas.

Foto - Jairo


Hoje em dia mais de 90% dos pomares de pitaya da região adotam o sistema convencional de produção, ou seja, uso de insumos químicos bem como agrotóxicos para o controle de pragas. Nesse sentido se o Brasil tiver interesse em acessar os mercados consumidores da União Europeia terá obrigatoriamente que transitar para o cultivo orgânico. Embora a região sul de Santa Catarina se destaque no segmento agroecológico e orgânico em número de famílias integradas em comparação às demais regiões do estado, no cultivo de pitaya a área reservada em hectares é inexpressiva. A alegação à baixa demanda se deve ao preço pago por quilo, similar ao cultivo convencional, bem como ao comportamento da população que ainda desconhece os impressionantes benefícios da fruta ao sistema imunológico, entre outros benefícios.

Foto - Jairo


Vem se discutindo há algum tempo estratégias para elevar o consumo da fruta. Maior divulgação na imprensa, redes sociais e políticas de incentivos por parte dos poderes constituídos são formas utilizadas ultimamente. Entretanto, essas iniciativas ainda se mostram tímidas, em especial ao segmento orgânico que muitas vezes nem mesmo é lembrado em eventos importantes como foi na abertura oficial da colheita da pitaya no último dia 09 de fevereiro, no município do Turvo. Na fala de um deputado estadual presente no evento em nenhum momento citou esse setor, dando total destaque ao agronegócio no qual inclui a pitaya.

Sendo produtor de pitaya há oito anos, desde o inicio procuro por todos os meios divulgar a fruta como forma de incentivar o seu consumo. Desde então é visível o aumento progressivo de pessoas consumindo-a não apenas devido ao seu surpreendente sabor, mas porque descobriram ser ela nutritiva e rica em propriedades terapêuticas. É preciso construir a cultura do consumo da fruta e nada melhor que divulgá-las nas escolas, a partir do ensino infantil. Trabalhar com professores, promovendo palestras e visitas monitoradas nos pomares de pitayas vêm se mostrando muito eficientes.

 

Foto - Viviane

A estratégia de venda direta, ou seja, colher e entregar direto ao consumidor permite-os acessar a frutas com melhor qualidade e preços mais convidativos aos apresentados nas gôndolas dos supermercados e fruteiras da região. Uns dos assuntos mais debatidos no encontro em Turvo foi como combater doenças e pragas na fruta sabendo que são poucos os produtos disponíveis no mercado destinados exclusivamente a essa atividade. O uso de insumos sintéticos, bem como agrotóxicos vem sendo práticas corriqueiras nos diversos pomares da região e do estado.

Em oposição a tais práticas convencionais está o cultivo agroecológico e orgânico que vem se mostrando altamente eficiente e com baixíssimo custo financeiro. A execução de técnicas alternativas de adubação, utilizando compostagem, biofertilizantes, microorganismos eficientes, micorisas, água de vidro, etc, comprovadamente garantem boa nutrição do solo, das plantas, ambas asseguram resistência às doenças e aos ataques de fungos e insetos.

Foto - Viviane


Ensacar as frutas após a queda dos restos florais vem se notabilizando como meio alternativo e eficiente de proteger a fruta as investidas de insetos. Além do mais tal experiência comprovou haver baixa incidência de frutas com centro gelatinoso, anomalia física que afeta as variedades brancas comuns.

O fato é que pouco se sabe ainda sobre a pitaya, seu comportamento e como reagem diante das adversidades cada vez mais frequentes e severas do tempo. Adaptações; manejos alternativos dos pomares, consorciando-os com outras frutas e espécies florestais nativos tendem a predominar no futuro. Quem não se adequar as tais metodologias no manejo da fruta terá que buscar outras culturas ou até mesmo encontrar outras formas de subsistência fora do segmento agrário.

Prof. Jairo Cesa    

domingo, 4 de fevereiro de 2024

 

A SOJA TOMA CONTA DO SUL DE SANTA CATARINA

Entre as décadas de 1970 e 1980 quem transitava pelas estradas do interior de Araranguá deve lembrar-se do colorido da diversidade de culturas agrícolas que tomavam as terras dos vales férteis. Feijão, milho, batata doce, amendoim, fumo, cana, aipim, mandioca, arroz, cebola, além de hortaliças e plantas frutíferas em geral, garantiam ao pequeno agricultor sustento e renda extra nas vendas aos armazéns e pequenos supermercados do município. 

Com o tempo, com a revolução agrícola, o pequeno agricultor teve que deixar de cultivar, deixar o campo, vendendo ou entregando suas terras aos bancos para o pagamento de dívidas contraídas de financiamentos. O caminho para não morrer de fome e sustentar a família foi botar tudo em um caminhão e tentar a vida na cidade, juntando-se aos demais moradores nos bairros que crescem vertiginosamente, bem como os problemas.

Rapidamente o interior de Araranguá foi mudando sua geografia, florestas e pequenos morros foram suprimidos cedendo lugar a um vasto deserto verde de arroz irrigado, era o pró várzea que viria mudar a configuração do modelo agrícola que predominaria nas décadas seguintes. As centenas de trabalhadores necessárias durante as safras anuais foram substituídas por potentes máquinas: tratores, plantadeiras, colhetadeiras, etc.

As enxadas, as foices, as pás, os arados e as capinadeiras de tração animal, equipamentos esses imprescindíveis nas décadas passadas passaram a ter um concorrente poderoso, os venenos/agrotóxicos, de todos os tipos e graus de contaminação. Tudo isso é resultado da revolução verde ocorrida após a segunda guerra mundial que transformou tanques e venenos em equimamentos e insumos agrícolas. Foram os países periféricos os laboratórios dessa revolução levando a estagnação de milhões de pequenos agricultores.  

A diversidade de culturas que sempre dominou os campos no passado tem hoje tomado por duas ou três cultivares: a soja, o milho e a cana de acurar. São essas e outras culturas de menor impacto que tomam anualmente do governo federal, fabulosas somas de recursos do Plano Safra. Acredite, tanto a soja quanto ao milho, que lideram as áreas de cultivo são as principais commodities de exportação, das quais são transformadas em ração para alimentar as vacas, porcos, frangos na China, União Europeia e ouras nacionalidades.

Outro aspecto surpreendente na região sul de Santa Catarina é o crescimento da cultura da soja em terras antes tomadas pela atividade da mandioca, do feijão, até mesmo do arroz. Claro que tudo isso tem relação com as políticas agrícolas implementadas pelos governos de plantão. Claro que junto com a soja vem as doenças até então desconhecidas e que começam a afetar culturas tradicionais, bem como a fruticultura local.

Tanto a soja quanto o arroz que hoje lideram o cenário agrícola regional utilizam anualmente toneladas de agrotóxicos no combate de plantas “indesejadas”, fungos, insetos, etc. Se levarmos ao laboratório os alimentos que a população consome diariamente, principalmente hortaliças e frutas, é quase certo que serão detectadas a presença de partículas de agrotóxicos e outros metais pesados em índices bem elevados do permitido. Também a água que a população consome tem presença de partículas de agrotóxicos em grau assustadoramente superior ao recomendado pelas agências de saúde.

A presença da suja no litoral de santa Catarina é um sinal de alerta para os ecossistemas da mata atlântica. Se as expectativas se confirmarem do aumento de 85% da área cultiva no Brasil nos próximos vinte anos, ou seja, de 43,8 milhões de hectares hoje para 55,8, extensas áreas de florestas da mata atlântica poderão ser suprimidas a exemplo do que está ocorrendo no bioma do Serrado. Junto com a soja e outras culturas novas vêm também outros problemas, doenças, como fungos, insetos, até então desconhecidos.

Um exemplo foi o que ocorreu com a pitaya no sul de Santa Catarina, safra 2022/2023. Um inseto conhecido como TRIPS atacou as casas dos frutos afetando a qualidade estética. Toneladas tiveram que ser descartadas ou vendidas a um preço muito baixo. De acordo com observações feitas pelos órgãos de inspeção estadual da agricultura do estado, há fortes indícios que esse inseto tenha sido trazido pela soja e se espalhado pela região.

Prof. Jairo Cesa